Portugal e o potencial da economia da partilha

A economia colaborativa ou peer-to-peer representa uma tendência que tem vindo a moldar-se a nível global. Tem características verdadeiramente disruptivas e poderá crescer de forma exponencial durante a próxima década e representar uma verdadeira alteração em áreas da economia tradicional, acompanhando as tendências sociais, tecnológicas e humanas futuras. Neste momento, gera representa hoje cerca de 3,5 vezes mais receitas na União Europeia que em 2013, e poderá registar crescimentos acima de 25% ao ano na próxima década, de acordo com um impact paper produzido pela PWC.

Empresas como a Airbnb , Uber ou Ebay já são conhecidas dos portugueses, mas existem muitas mais a operar na Europa e em diversos sectores, e que começaram em breve a olhar para Portugal. E será que Portugal pode ter condições para esta revolução que parece estar em curso, de tal forma que a União Europeia já pondera estabelecer regulação própria? De acordo com especialistas com trabalho produzido na área como Rick Torben, estabelecem três catalisadores: i) tecnológico, ii) o económico e iii) o social, este último que tem a ver, por exemplo, com a consciencialização das novas gerações para as preocupações ambientais e do aproveitamento dos recursos, ou a mentalidade das gerações mais jovens (milenials e geração Z) que valorizam mais a experiência e o usufruto do que a propriedade dos bens.

Ora, Portugal é uma das 30 economias mundiais mais bem preparadas tecnologicamente para enfrentar a quarta revolução industrial de acordo com os critérios do Global IT Report de 2016 produzido pelo World Economic Forum, com boas classificações em praticamente todos os pilares considerados pela análise. Por outro lado, os rendimentos disponíveis das famílias portuguesas tem vindo a cair, e o desemprego mantém-se elevado. Existem por isso motivações socioeconómicas que suporte apetência procurar rentabilizar ativos ou pouco utilizados , de forma a realizar um rendimento extra, e também em utilizar as plataformas para ter acesso a bens de forma mais económica que nos comparáveis da industria tradicional. Por fim, o aumento do turismo nos próximos anos tem um efeito positivo sobre áreas do modelo peer-to-peer, como os serviços de alojamento (alternativas a hotéis) e de transporte (alternativas a rent-a-car).

Ou seja, Portugal, que criou nos últimos anos caminho para ser um dos hubs mais interessantes a nível europeu para criar negócios relacionados com a economia digital, também tem condições para o desenvolvimento de uma economia colaborativa que seja também monetizável. Pode ser inclusive uma boa resposta ao desemprego de longa duração, e à estagnação económica a que o país parece votado.

 

Artigo publicado em jornaleconomico.sapo.pt