A oportunidade da partilha
Os mercados têm vivido sobre a ameaça latente dos novos fenómenos politicos mais populistas e que ameaçam o formato económico das economias desenvolvidas na ultimas décadas, nomeadamente no que diz respeito com o corte com a globalização, e maior proteccionismo económico. A realidade é que o apoio popular dos partidos do chamado centro politico a nível dos países desenvolvidos tem vindo a reduzir-se de forma significativa, e o apoio às medidas mais proteccionistas encontram-se em máximos históricos – de acordo com uma análise da consultora Bridgewater, desde a grande depressão que não tinham níveis tão elevados de popularidade – mas os investidores parecem estar a relativizar estes factores, à medida que os mercados se vão tornando mais politizados no que diz a factores de risco.
Obviamente, a médio prazo o aumento do proteccionismo tem implicações sobre o potencial de crescimento das economias, e será de esperar que possa ter até um impacte maior nas economias desenvolvidas, que beneficiam tradicionalmente mais do mercado global. Na Europa temos verificado uma subida acentuada dos movimentos políticos anti sistema, e esse efeito tem tido um peso condicionador dos mercados financeiros de risco face aos outros mercados comparáveis – com os mercados europeus a transaccionar com múltiplos de preço mais baixos do que seria possível face aos resultados esperados das empresas, num contexto macro económico mais positivo.
Aqui se revela o momento das eleições em França e que podem acabar por representar uma oportunidade para os investidores de risco. Apesar dos indícios que apontam para uma passagem à segunda volta de Marine Le pen, a verdade é que Emmanuel Macron tem boas probabilidades de obter uma vitória robusta na segunda volta das presidenciais Francesas. Isto afastará no curto prazo os receios com o risco de implosão do euro e da União Europeia, o que obviamente deverá ser reflectido nos mercados.
Mas algumas dúvidas ainda continuarão a persistir na mente dos investidores, porque mesmo que Macron vença , pode não ter maioria parlamentar, criando um bloqueio governativo. Adicionalmente, pode ser provável a realização de eleições em Itália este ano, onde o peso do eurocepticismo é superior do que em França. Por fim, no Reino Unido – onde existirão também eleições antecipadas – o ímpeto do processo do Brexit pode acelerar. Ou seja, o segundo semestre do ano não fornece uma agenda fácil, bem pelo contrário, relativamente ao peso do factor político nos mercados.
No entanto, alguns factores também indicam que os riscos políticos podem de facto estar a ser exacerbados. Desde logo existe uma grande diferença na europa continental que separa os exemplos do que ocorreu nos Estados Unidos, ou no referendo que ditou (veremos se termina assim) a saída do Reino Unido da União Europeia. Na europa continental, a antiglobalização não recolheu apoio nos partidos do sistema. E isso pode fazer uma diferença importante que pode ser capitalizada nos mercados de risco, sobretudo os de referência da zona euro.
Artigo publicado no Vida Económica